Otite canina externa: como identificar, tratar e prevenir no seu cão

A otite canina externa é uma doença dermatológica caracterizada pela inflamação da orelha do cachorro, atingindo o conduto auditivo e se estendendo até a parede externa da membrana timpânica.

Para entender melhor a condição, é importante lembrar que a orelha do cão é formada por três regiões: externa, média e interna.

A parte externa inclui o pavilhão auricular (parte visível da orelha) e o canal auditivo até o tímpano. Nessa área, glândulas produzem o cerúmen, substância que protege o ouvido, mas que em excesso pode favorecer inflamações.

A doença provoca dor, coceira, secreção e mau cheiro. É uma das afecções mais comuns em clínicas de pequenos animais e requer atenção imediata.

No Brasil, o Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia mostra que as infecções auriculares representam 8% a 15% dos atendimentos clínicos, sendo que a otite externa crônica corresponde a até 76,7% das otopatias em cães.

Reconhecer precocemente os sinais de otite no cachorro e buscar atendimento veterinário é essencial para impedir complicações, como a progressão para formas mais graves que podem causar perda auditiva permanente. 

Ao longo deste artigo, você vai entender as causas, sintomas, diagnóstico, tratamentos e formas de prevenção da otite canina externa, além de respostas para as dúvidas mais comuns dos tutores.

Quais são os sintomas da otite em cães?

A otite canina externa é caracterizada por um processo inflamatório intenso, que provoca alterações visíveis no ouvido e no comportamento do cão. A gravidade pode variar, mas alguns sinais clínicos são facilmente reconhecidos:

  • Prurido: coceira intensa na região das orelhas.
  • Meneios cefálicos: sacudir a cabeça de forma repetida.
  • Otorréia: secreção escura, amarelada ou purulenta.
  • Otorrema: odor desagradável proveniente do ouvido.
  • Otalgia: dor e sensibilidade ao toque no pavilhão auricular.
  • Eritema e edema: vermelhidão e inchaço na entrada do canal auditivo.
  • Lesões secundárias: crostas, descamação, ulceração e alopecia provocadas pelo ato de coçar.
  • Alterações comportamentais: irritabilidade, agitação e vocalização por desconforto.
  • Head tilt: inclinação da cabeça.
  • Otohematoma: hematoma auricular decorrente de traumas por coceira ou balanço excessivo da cabeça.

Quais são os tipos e os estágios da otite em cães?

Na medicina veterinária, a otite pode ser classificada conforme a porção anatômica acometida (externa, média ou interna), o comprometimento (unilateral ou bilateral) e a duração do quadro (aguda ou crônica).

Tipo Local afetado Gravidade Principais sinais
Externa Canal auditivo externo Mais comum e tratável Coceira, secreção, mau cheiro
Média Região atrás do tímpano Moderada Dor intensa, perda auditiva parcial
Interna Estrutura internas do ouvido Grave Perda de equilíbrio, surdez, complicações neurológicas

Os sintomas da otite em cães podem variar conforme a evolução da doença e a extensão do ouvido afetado. Clinicamente, a doença pode se apresentar nos seguintes estágios:

  • Aguda: sintomas surgem de forma repentina, geralmente associados a infecções ou alergias. Costuma responder bem ao tratamento quando diagnosticada cedo.
  • Crônica: inflamação persistente ou recorrente, difícil de controlar, com risco de lesões permanentes e perda auditiva.
  • Unilateral: afeta apenas um ouvido.
  • Bilateral: atinge os dois ouvidos ao mesmo tempo.

Reconhecer corretamente o tipo e o estágio da otite é essencial para definir o tratamento adequado e evitar complicações, como perda auditiva e alterações neurológicas.

O que causa a otite canina externa?

A otite canina externa (OE) não tem uma causa única. Trata-se de uma doença multifatorial que pode surgir por diferentes agentes e condições.

De modo geral, a enfermidade pode estar associada a quatro grandes grupos: causas primárias, causas secundárias, fatores predisponentes e fatores perpetuadores.

Cada grupo influencia de forma distinta o surgimento e a persistência da otite canina externa:

Fatores predisponentes (aumentam o risco)

Condições que aumentam a suscetibilidade do animal à otite externa, mesmo antes do início da inflamação.

  • Conformação da orelha: raças de orelhas longas, caídas ou muito peludas.
  • Umidade excessiva: banhos frequentes, natação.
  • Doenças obstrutivas: pólipos, neoplasias, cistos.
  • Doenças sistêmicas: imunossupressão, estados catabólicos.

Causas primárias (iniciam a otite)

cachorro coçando a orelha com otite canina

As causas primárias provocam uma reação inflamatória no ouvido inicialmente saudável ao alterar a barreira protetora natural da pele do conduto auditivo. 

Isso ocorre porque o acúmulo de cerúmen, a presença de alérgenos ou parasitas irritam o epitélio local, deixando o canal mais úmido e menos ventilado. 

Nessa condição, o ambiente auditivo se torna favorável à multiplicação de bactérias e fungos, o que frequentemente abre caminho para infecções secundárias.

Entre as principais causas primárias da otite externa em cães estão:

  • Alergias: alimentares, dermatite atópica ou de contato.
  • Parasitas: principalmente o ácaro Otodectes cynotis.
  • Doenças autoimunes ou imunomediadas: como pênfigo foliáceo.
  • Endócrinas: hipotireoidismo e hiperadrenocorticismo.
  • Distúrbios de pele: adenite sebácea, dermatite responsiva ao zinco.
  • Corpos estranhos: sementes, poeira, fragmentos vegetais.
  • Infecções virais ou fúngicas: como cinomose e Aspergillus.

Causas secundárias (agravam um ouvido já doente)

Quando o ouvido já está inflamado por uma causa primária, outras alterações podem se instalar e agravar o quadro. São chamadas de causas secundárias e estão ligadas, principalmente, a infecções e fatores externos que perpetuam a inflamação:

  • Infecções bacterianas: Staphylococcus pseudintermedius, Streptococcus, Pseudomonas.
  • Infecções fúngicas: leveduras como Malassezia pachydermatis.
  • Reações a medicamentos.
  • Limpeza excessiva que irrita o canal auditivo.

Fatores perpetuadores (mantêm a inflamação)

São mudanças que surgem como consequência da otite e dificultam a recuperação, favorecendo a cronicidade do quadro clínico.

  • Alterações epiteliais que reduzem a limpeza natural do canal.
  • Estenose ou edema do conduto auditivo.
  • Ruptura de tímpano.
  • Alterações glandulares (hiperplasia sebácea).
  • Fibrose ou calcificação do canal.
  • Otite média associada.

Quais cães têm mais risco de desenvolver otite externa?

Cães de orelhas longas, peludas ou com conduto auditivo estreito apresentam maior risco de desenvolver otite externa. O formato anatômico dificulta a ventilação do ouvido e favorece a umidade, criando um ambiente ideal para a proliferação de fungos e bactérias.

Entre os principais fatores de risco estão:

Categoria Exemplos Por que aumenta o risco
Raças predispostas Cocker Spaniel, Basset Hound: orelhas caídas

Golden Retriever, Labrador: apresentam tendência a alergias

Poodle e Schnauzer: excesso de pelos no canal auditivo externo

Bulldog, Shar Pei – canal estreito

Shih-tzu – orelhas peludas

Retêm calor, cerúmen e umidade
Idade Filhotes: mais ácaros

Idosos: otites crônicas, doenças endócrinas

Imunidade baixa, inflamações recorrentes
Condições clínicas Alergias

Hipotireoidismo

Hiperadrenocorticismo

Imunossupressão

Alteram barreira natural e favorecem infecção
Ambiente e manejo Banhos sem secagem

Clima quente e úmido

Natação

Produtos inadequados

Umidade e irritação do canal auditivo

Quais complicações a otite canina externa pode causar?

Se o tutor adia a consulta e o tratamento, a inflamação pode evoluir e causar problemas graves. Ou seja, pode se tornar crônica, levando ao estreitamento permanente do canal auditivo, formação de fibrose e até ruptura da membrana timpânica. 

Nos casos avançados, a infecção pode atingir o ouvido médio ou interno, comprometendo o equilíbrio do animal e provocando perda auditiva parcial ou total. 

Por isso, o acompanhamento veterinário imediato é essencial para evitar sequelas irreversíveis e garantir a recuperação completa do cão.

Como é feito o diagnóstico da otite canina externa?

O diagnóstico não se baseia apenas nos sintomas visíveis, como coceira ou secreção. Para confirmar a doença e identificar a causa correta, o veterinário utiliza diferentes métodos que vão da consulta clínica a exames complementares.

Os principais métodos de diagnóstico incluem:

  • Anamnese: coleta de informações com o tutor sobre início dos sinais, evolução do quadro, ambiente e possíveis alergias.
  • Exame físico e avaliação otológica: inspeção do pavilhão auricular e testes de sensibilidade à dor.
  • Otoscopia: visualização do canal auditivo para verificar corpos estranhos, pólipos, excesso de cerúmen ou alterações no tímpano.
  • Citologia auricular: análise da secreção do ouvido para identificar microrganismos (bactérias, fungos ou leveduras).
  • Cultura e antibiograma: indicados em casos crônicos ou resistentes, para definir o antibiótico mais eficaz.
  • Exames de imagem: radiografia, tomografia ou ressonância são usados quando há suspeita de otite média ou interna.

Esse processo é essencial para diferenciar a otite de outras doenças e garantir que o tratamento seja direcionado à causa real da inflamação. Por isso, apenas o médico-veterinário pode indicar o diagnóstico correto e seguro.

Qual é o tratamento para a otite canina externa?

Veterinária examinando possível otite externa em cachorro com um otoscópio na clínica veterinária.

A otite canina externa tem cura, mas o tratamento só é eficaz quando direcionado à causa do problema. O plano terapêutico geralmente envolve limpeza do ouvido, medicamentos tópicos e, em casos mais graves, uso de antibióticos, antifúngicos ou até cirurgia.

Após o diagnóstico, o médico-veterinário define a abordagem mais adequada. De forma geral, o tratamento inclui etapas complementares que atuam juntas para controlar a inflamação, eliminar agentes infecciosos e prevenir novas crises.

Então, em casos de otite canina externa, dependendo da causa, o veterinário pode orientar os seguintes tratamentos:

  • Controle da dor e da inflamação: anti-inflamatórios e corticoides ajudam a reduzir o inchaço e a coceira, facilitando a limpeza e a aplicação de medicamentos.
  • Higienização do ouvido: remoção do excesso de cerúmen e secreção com soluções otológicas prescritas. Em quadros graves, a limpeza pode ser feita na clínica, sob sedação.
  • Medicamentos tópicos: soluções ou pomadas com ação antibacteriana, antifúngica, anti-inflamatória ou antiparasitária, de acordo com o agente causador.
  • Tratamento sistêmico: antibióticos, antifúngicos ou antiparasitários por via oral ou injetável em casos graves, crônicos ou com otite média associada.
  • Controle das causas subjacentes: manejo de alergias alimentares ou ambientais, tratamento de doenças endócrinas e remoção de corpos estranhos.
  • Cirurgia: indicada apenas em casos crônicos e resistentes, quando há estenose do canal auditivo ou lesões irreversíveis.

O sucesso do tratamento depende do acompanhamento correto e da disciplina do tutor em seguir as orientações do veterinário. 

É importante evitar a automedicação, já que o uso inadequado de antibióticos, antifúngicos ou corticoides pode agravar a inflamação e favorecer a resistência dos microrganismos.

Como também, nunca deve ser feita com a introdução de hastes flexíveis (cotonetes) ou outros objetos, pois isso pode piorar o quadro.

Como prevenir a otite canina externa?

Tutores, o melhor tratamento para a otite crônica é a prevenção. A rotina de cuidados com os ouvidos do cão é fundamental, principalmente em raças predispostas ou em animais que já tiveram episódios anteriores da doença.

As principais medidas preventivas incluem:

  • Limpeza regular e correta: higienizar as orelhas apenas com soluções otológicas prescritas pelo veterinário.
  • Proteção contra umidade: evitar a entrada de água no ouvido durante o banho e secar bem a região após contato com água.
  • Manutenção da dieta prescrita: em casos de alergias alimentares, respeitar a orientação nutricional é essencial.
  • Controle de parasitas: usar antiparasitários regularmente para prevenir ácaros de ouvido e outros ectoparasitas.
  • Acompanhamento periódico: realizar check-ups veterinários, especialmente em cães com histórico de otite crônica.
  • Cuidados em pet shops: escolher estabelecimentos que adotem práticas seguras de banho e tosa, respeitando a anatomia auricular.
  • Não remover pelos do ouvido sem indicação: a depilação auricular só deve ser feita quando recomendada pelo veterinário.

Além disso, o tutor deve observar regularmente as orelhas do cão e procurar o veterinário diante de qualquer alteração, como secreção, mau cheiro ou coceira excessiva. 

Mas, lembre-se: a prevenção reduz o risco de complicações, mas não substitui a avaliação clínica.

Perguntas frequentes sobre a otite canina externa

otite externa em cães

Como limpar a orelha do cachorro?

A limpeza deve ser feita apenas com soluções otológicas veterinárias prescritas pelo médico-veterinário. Produtos como Auritop Gel Otológico e EasOtic Suspensão Otológica podem ser indicados, mas nunca devem ser usados sem orientação profissional.

Nunca use cotonetes: eles podem machucar o canal auditivo e empurrar a secreção ainda mais para dentro. Quer mais detalhes? Veja o guia completo sobre como limpar o ouvido do cachorro.

A alimentação pode causar ou piorar a otite em cães?

Sim, alergias alimentares estão entre as principais causas de otite crônica ou recorrente. Estudos mostram que até 80% dos cães com alergia alimentar também apresentam inflamações no ouvido (FONTOURA et al., 2014).

Uma nutrição equilibrada fortalece a barreira cutânea e o sistema imunológico, reduzindo a predisposição a inflamações. Dietas com proteínas de alta qualidade, vitaminas, minerais e ácidos graxos ômega-3 auxiliam na recuperação e prevenção da doença.

Os tutores devem oferecer sempre rações de qualidade e consultar o médico-veterinário para definir a melhor dieta de acordo com a raça, idade e necessidades individuais do animal.

Cães idosos têm mais predisposição à otite?

Sim, o envelhecimento favorece infecções crônicas devido a queda da imunidade, doenças endócrinas (como hipotireoidismo) e alterações no epitélio auricular.

O que pode ser confundido com otite externa?

Diversas doenças apresentam sintomas semelhantes à otite, como coceira, secreção e inclinação da cabeça. Entre elas:

Doenças dermatológicas

  • Dermatite alérgica (alimentar ou ambiental).
  • Dermatofitose (micose).
  • Sarna sarcóptica ou demodécica.

Doenças neurológicas e de equilíbrio

  • Síndrome vestibular.
  • Lesões neurológicas que alteram postura e comportamento.

Outras condições do ouvido

  • Corpos estranhos (sementes, fragmentos vegetais, poeira).
  • Neoplasias e pólipos no canal auditivo.
  • Traumas auriculares (arranhões, mordidas, acidentes).

Apenas o exame clínico e exames complementares (como otoscopia e citologia) podem diferenciar a otite de outras doenças.

Como saber se a otite canina é externa ou interna?

A diferenciação só pode ser feita por meio de exame clínico e, em alguns casos, exames complementares (otoscopia, citologia, exames de imagem). 

Onde comprar soluções otológicas e itens de higiene auricular para cães?

Na Cobasi você encontra uma linha completa de remédio para otite canina, soluções otológicas e itens de higiene para cães, disponíveis no site, app ou lojas físicas.

Esses produtos devem ser adquiridos apenas em lojas e farmácias veterinárias e utilizados sempre com a indicação do médico-veterinário, garantindo o tratamento correto e seguro.

veterinária fazendo exames na orelha de cachorro

A otite canina externa é uma das doenças mais comuns na rotina veterinária, afetando 1 em cada 5 cães ao longo da vida. Quanto mais cedo for identificada e tratada, maiores as chances de evitar complicações graves e preservar a qualidade de vida do pet. 

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