Na medicina veterinária, não há registros clínicos ou evidências anatômicas de hemorroidas em cachorro.
A condição, bastante comum em humanos, não se aplica à anatomia canina devido à forma como o corpo do animal é estruturado e como o sistema vascular funciona.
No entanto, algumas doenças anorretais, como o prolapso retal, podem causar sinais semelhantes, gerando dúvidas nos tutores.
Neste artigo, você vai entender por que cães não têm hemorroidas, o que pode estar causando sintomas parecidos e como agir ao perceber algo de errado na região anal do seu pet.Tudo com base em estudos científicos e orientações veterinárias.
O que é hemorroida e por que ela não afeta cães?
A hemorroida (também chamada de almorreima) é uma condição comum em humanos. Ela ocorre quando as veias do reto ou do ânus se dilatam ou inflamam, provocando dor, coceira, sangramento e sensação de desconforto.
Esse quadro costuma surgir por fatores como esforço ao evacuar, obesidade, gravidez ou pela posição ereta prolongada, que aumenta a pressão sobre a região pélvica.
Nos cães, no entanto, esse tipo de alteração vascular não ocorre. Isso porque:
- o corpo do cachorro é horizontal, o que reduz significativamente a pressão sobre as veias do reto;
- a anatomia da região anal e o sistema circulatório canino são diferentes dos humanos;
- segundo estudo da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), a vascularização do reto em cães não favorece a formação dessas varizes, características da hemorroida humana.
Portanto, os cães não desenvolvem hemorroidas. No entanto, é comum que alguns problemas anorretais — como prolapso retal, tumores, infecções ou inflamações — apresentem sintomas semelhantes como vermelhidão e inchaço na região anal.
Por causa dessa semelhança, muitos tutores confundem essas doenças com hemorroida, quando na verdade estão diante de outras condições que exigem atenção veterinária.
Entre elas, o prolapso retal é uma das mais comuns. É sobre ele que falaremos a seguir.
O que é prolapso retal em cães?
O prolapso retal é uma condição em que uma parte do reto do cachorro se projeta para fora do ânus, formando uma estrutura avermelhada, úmida e saliente, que pode assustar bastante o tutor.
Visualmente, ele pode lembrar uma “almofada” ou “tubo”, que geralmente apresenta uma cor vermelho vivo, o que explica a confusão comum com a hemorroida humana.
Esse problema ocorre quando há um enfraquecimento dos músculos retais e o animal faz esforço repetido para evacuar — especialmente em casos de diarreia prolongada, prisão de ventre ou presença de parasitas intestinais.
Quanto mais o pet força, maior é o risco de o tecido retal ser empurrado para fora. De acordo com o portal PetMD, existem dois tipos principais de prolapso:
- Prolapso incompleto: apenas a mucosa retal (camada mais superficial) fica exposta.
- Prolapso completo: todas as camadas do reto se exteriorizam, o que configura um quadro mais grave.
O prolapso retal em cães é uma emergência médica
Quando detectado precocemente, o prolapso retal geralmente é tratável e tem cura, podendo exigir cirurgia, especialmente se ocorrer novamente.
Se o tecido permanecer exposto por muito tempo, pode escurecer e necrosar, comprometendo a recuperação. Em casos graves, a condição pode ser fatal, por isso o atendimento veterinário rápido é essencial.
O tratamento varia conforme a gravidade: em muitos casos, a reposição manual do reto associada ao controle da causa subjacente é suficiente para uma recuperação completa.
O que causa prolapso retal em cachorro?
As principais causas do prolapso retal em cães incluem:
- esforço para defecar causado por prisão de ventre ou diarreias prolongadas;
- parasitas intestinais (verminoses);
- problemas intestinais crônicos ou inflamatórios;
- constipação severa;
- complicações no parto (em fêmeas);
- tumores anorretais;
- predisposição genética em algumas raças.
Além disso, fatores como alimentação inadequada, falta de vermifugação e desidratação podem agravar o risco de prolapso retal.
Quais são os sintomas do prolapso retal em cães?

O principal sinal do prolapso retal é a saída de parte do reto pelo ânus do cachorro, o que pode se agravar conforme ele faz força para evacuar.
Esse é o sintoma mais evidente, mas não o único. Outros sinais também podem aparecer e indicar a gravidade do quadro, como:
- Postura curvada prolongada: o cão permanece por mais tempo do que o normal na posição de evacuação, mesmo sem conseguir defecar;
- Aumento da frequência de evacuação: o pet tenta fazer cocô várias vezes ao dia, com pouco ou nenhum resultado;
- Fezes alteradas: podem estar pequenas, ressecadas, mais soltas que o habitual ou cobertas por vermes intestinais;
- Dificuldade para defecar (disqueria): esforço visível, gemidos ou demora para evacuar;
- Sangramento anal: perceptível no local ou nas fezes;
- Dor ao evacuar: o cão pode demonstrar incômodo, inquietação, se recusar a evacuar ou até ficar agressivo;
- Lambedura ou mordedura na região anal ou no próprio prolapso: em resposta à coceira, dor ou irritação;
- Inchaço, vermelhidão e sensibilidade ao redor do ânus;
- Distensão abdominal e tenesmo (esforço contínuo para evacuar, mesmo sem fezes);
- Letargia, perda de apetite e prostração: especialmente se houver infecção associada;
- Escurecimento do tecido exposto: sinal de necrose, o que indica perda de irrigação sanguínea e exige intervenção imediata.
Se o seu cachorro está com algo saindo do ânus, mesmo que ainda pareça pequeno ou esteja visível apenas em alguns momentos, leve-o imediatamente ao veterinário.
Outras condições semelhantes a “hemorroida em cães”
Além do prolapso retal, há outros problemas anais que podem causar sinais semelhantes e confundir os tutores:
- adenoma perianal (tumor benigno próximo ao ânus);
- abscessos ou infecções das glândulas anais;
- hérnias perineais;
- fístulas anais crônicas;
- inflamações causadas por diarreia ou alergias alimentares.
A única forma de diferenciar corretamente essas condições é com avaliação clínica feita por um médico-veterinário.
Portanto, não realize qualquer tentativa de diagnóstico ou tratamento em casa. O uso de pomadas inadequadas pode mascarar os sintomas ou agravar o quadro.
Grupos e fatores de risco
Embora o prolapso retal em cães possa ocorrer em qualquer fase da vida, alguns fatores aumentam significativamente o risco do problema se desenvolver, como:
- filhotes com sistema imunológico imaturo são mais vulneráveis a diarreias severas e parasitas intestinais.
- cães com verminoses, protozoários ou outras infecções intestinais que causam diarreias frequentes.
- cadelas no parto, especialmente quando prolongado, pode haver pressão excessiva na região pélvica, favorecendo o deslocamento do reto.
- após o parto, a cadela pode desenvolver prolapso retal por causa da constipação e do esforço durante as primeiras evacuações. Especialmente se estiver debilitada ou com dieta pobre em fibras.
- animais que sofrem com constipação frequente, fazem esforço constante para defecar, aumentando o risco de prolapso retal.
- distúrbios crônicos do intestino, como colites ou síndrome do intestino irritável, causam tenesmo (esforço para evacuar sem fezes) e aumentam a frequência de defecações, que são dois gatilhos para o prolapso.
Vale destacar que embora o prolapso não seja considerado uma doença genética, cães que já apresentaram o problema anteriormente têm maior risco de recidiva. Por isso, é importante informar esse histórico nas consultas veterinárias regulares.
Quais os riscos do prolapso retal em cães?

O prolapso retal em cães é uma condição progressiva. Isso significa que, se não for tratado a tempo, pode se agravar rapidamente, resultando em complicações graves, que podem ser irreversíveis ou até fatais.
De modo geral, a doença pode:
- evoluir para necrose da mucosa retal;
- expor o animal a infecções graves;
- causar fístulas anais e perfurações;
- exigir cirurgia de reconstrução do reto;
- em casos mais graves, cirurgia de ressecção do segmento afetado;
- aumentar o risco de recidivas, principalmente quando a causa subjacente — como parasitas intestinais, constipação ou infecções — não é identificada e tratada.
Como é feito o diagnóstico do prolapso retal em cães?
O diagnóstico é feito com base na observação clínica e no histórico clínico do animal. Em muitos casos, a simples presença de uma massa alongada e avermelhada saindo pelo ânus já é suficiente para que o veterinário identifique o quadro.
No entanto, o veterinário precisa descartar outras possíveis doenças que apresentam sinais clínicos semelhantes.
Para diferenciar as duas condições, um dos métodos recomendados na prática clínica é a introdução de uma sonda romba lubrificada entre a parede do reto e o tecido exteriorizado:
Essa técnica, descrita no clássico de medicina veterinária de Ettinger & Feldman (2014) e reforçada por Melo (2017), é fundamental para um diagnóstico seguro e eficaz.
Exames complementares importantes
Além da inspeção visual e da palpação retal, o veterinário pode solicitar exames adicionais para investigar a causa do prolapso e avaliar o estado geral do pet:
- exame de fezes (coproparasitológico): para identificar verminoses e infecções intestinais;
- hemograma, bioquímico e urinálise: para avaliar a presença de inflamações, alterações metabólicas e função renal;
- ultrassonografia e radiografia abdominal: ajudam a detectar hérnias, obstruções ou alterações anatômicas;
- cultura urinária e exames específicos, se houver suspeita de infecção sistêmica ou alteração multissistêmica.
Tem tratamento para prolapso retal em cachorro?

Sim, o tratamento depende do tipo de prolapso (incompleto ou completo), da condição do tecido exposto, da frequência do problema e, principalmente, da causa subjacente.
Por exemplo, para casos leves, onde o tecido pode ser recolocado e suturado, medicação anti-inflamatória e dieta específica são um dos tratamentos mais comuns e eficazes.
Já em condições mais graves, pode ser necessário cirurgia para remoção da parte necrosada. Além disso, o veterinário poderá indicar um suporte intensivo com antibióticos intravenosos e analgesia potente.
Como prevenir o prolapso retal em cães?
A prevenção do prolapso retal depende do cuidado com a saúde intestinal do pet e da redução de fatores que causam esforço ao evacuar, como constipação, diarreia crônica e verminoses.
Embora nem todos os casos sejam evitáveis, algumas medidas simples e consistentes podem reduzir bastante o risco:
Ofereça uma alimentação balanceada e rica em fibras
Dietas com bom teor de fibras ajudam a manter o trânsito intestinal saudável, evitando tanto fezes ressecadas quanto diarreias prolongadas.
Mantenha a vermifugação do cão em dia
Parasitas intestinais são uma das principais causas de esforço retal e diarreia em cães. Siga sempre o protocolo de vermifugação indicado pelo médico-veterinário.
Estimula a hidratação
A ingestão adequada de água evita fezes secas e duras, facilitando a evacuação. Ofereça sempre água limpa e fresca, além de considerar alimentos úmidos, quando indicado.
Observe o comportamento de evacuação
Se notar que o pet está com dificuldade para defecar, faz força excessiva, tenta evacuar muitas vezes ao dia ou apresenta sangue nas fezes, procure o veterinário imediatamente.
Realize check-ups regulares
Consultas de rotina ajudam a identificar alterações intestinais, inflamações ou predisposições antes que evoluam para um quadro grave.

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