É um mito achar que os gatos esquecem seus donos depois de três dias. Estudos mostram que os felinos possuem uma memória altamente desenvolvida, com capacidade de guardar lembranças por curtos e longos períodos.
É comum que muitos tutores se perguntem se os gatos ainda lembrarão dos donos após uma viagem, uma mudança de casa ou até mesmo uma simples ausência prolongada.
Mas, apesar da fama de independentes, os felinos são capazes de reconhecer seus tutores com base em cheiros, sons, rotinas e experiências afetivas. Esse reconhecimento se fortalece especialmente quando há vínculo emocional com pessoas significativas.
Essa habilidade vem do hipocampo, uma região do cérebro responsável pela consolidação das memórias. É a mesma estrutura que atua em cães e humanos.
O cérebro felino possui cerca de 300 milhões de neurônios no córtex cerebral. Essa estrutura permite que os gatos lembrem de pessoas, lugares e eventos com surpreendente precisão.
Além disso, quando um tutor se dedica a brincar, alimentar, conversar e conviver com o pet de forma constante e gentil, cria-se um registro afetivo duradouro. Esse reconhecimento mostra a conexão entre gatos e memória afetiva, baseada em experiências vividas.
Ou seja, não se trata apenas de reconhecer um rosto. Os gatos reconhecem a presença emocional e sensorial das pessoas com quem compartilham momentos significativos.
Essa curiosidade nos leva ao fascinante tópico da memória felina. Então, a seguir, vamos mergulhar no mundo de como os gatos se lembram e reconhecem seus tutores, ambientes, experiências e até situações que marcaram emocionalmente suas vidas.
Como funciona a memória dos gatos? O que diz a ciência

Sim, os gatos têm memória e são capazes de lembrar de pessoas, lugares e situações por curtos ou longos períodos.
São animais que desenvolvem vínculos afetivos, guardam experiências marcantes e rotinas com base em memórias bem consolidadas.
Assim como os humanos, os gatos contam com diferentes tipos de memória, cada uma com uma função específica no dia a dia.
Memória de curto prazo: útil para decisões rápidas
A memória de curto prazo dos gatos pode durar até 16 horas, usada para processar informações imediatas, como onde está a tigela de comida ou a caixa de areia recém-movida.
Também é o tipo de memória que permite que o animal encontre um brinquedo que viu poucos minutos atrás ou volte para um lugar interessante.
Memória de longo prazo: lembranças que duram anos e até uma vida inteira
A memória de longo prazo é a mais forte nos felinos, permitindo que consigam guardar experiências por meses ou anos. Especialmente, se forem associadas a emoções fortes, como medo, dor, carinho ou recompensa.
É por isso que o gato lembra do dono mesmo após muito tempo, sente falta da rotina ou até evita lugares e pessoas ligadas a traumas.
Se uma experiência foi importante para o animal, ele tende a armazenar essa informação de forma duradoura, mesmo que não a demonstre de maneira evidente.
Memória associativa: o cérebro felino aprende por conexões
Os gatos aprendem por associação. Isso significa que ligam sons, cheiros, objetos e ambientes a experiências passadas, sejam boas ou ruins.
Um exemplo clássico é o som da embalagem de ração, que rapidamente vira sinônimo de comida. Da mesma forma, a caixa de transporte pode ser associada ao medo, se o gato passou por uma experiência estressante no veterinário.
Nesse caso, o animal não se lembra exatamente do “dia da consulta”, mas reage automaticamente ao estímulo. Isso é memória associativa.
Segundo especialistas ouvidos pela National Geographic, esse tipo de memória é um dos pilares do comportamento dos gatos.
É por meio dessas conexões que os gatos aprendem a evitar riscos, buscar recompensas e construir rotinas, o que também explica por que certos hábitos são tão difíceis de mudar.
Gatos têm memória episódica?

Segundo o etólogo Johan Lind, da Universidade de Estocolmo, não há evidências de que gatos (ou mesmo a maioria dos animais) tenham memória episódica como os humanos.
“Eles lembram por associação, não por reconstrução de eventos completos.
O gato não revive a cena da visita ao veterinário, mas associa a caixa ao desconforto”, explicou Lind à National Geographic.
A memória episódica é a que permite lembrar de eventos específicos com contexto, como: “o que aconteceu”, “quando” e “onde”.
Nos humanos, é o que nos faz lembrar do tipo “o dia em que perdi as chaves” ou “aquela festa na casa da Rita”. Mas nos animais, esse tipo de memória ainda é alvo de estudo.
Essas associações são robustas e duradouras, principalmente quando envolvem estímulos biologicamente relevantes, como comida ou desconforto.
Ou seja, seu gato pode não ter “lembranças completas” como um humano, mas com certeza lembra de você, de outros pets, a sonoridade da sua voz e de tudo que fez parte da relação entre vocês.
Então, se você ainda tem dúvidas se os gatos se lembram das pessoas, saiba que mesmo após uma ausência, o vínculo permanece: basta um gesto, um som ou o cheiro para reativar a memória afetiva associativa que o pet construiu com você.
A memória espacial e o papel do hipocampo no cérebro felino
Os gatos também têm uma memória espacial muito desenvolvida. E é aí que entra o hipocampo, uma região do cérebro responsável por consolidar memórias de longo prazo e por ajudar o animal a se localizar no espaço.
Essa estrutura permite que o gato memorize rotas, identifique cômodos da casa, localize a caixa de areia, a caminha ou um brinquedo, mesmo depois de horas ou até dias.
Por isso, o animal consegue voltar ao lugar onde encontrou comida ou se esconder com precisão impressionante, habilidades que remontam aos seus instintos de caça e sobrevivência.
De acordo com um estudo publicado no periódico Behavioural Brain Research, o hipocampo é diretamente responsável pela capacidade dos gatos de aprender e lembrar trajetos, o que mostra que a orientação espacial é um componente essencial da cognição felina.
Gatos sentem falta dos donos?

Sim, os gatos sentem falta dos seus tutores, embora possam demonstrar isso de forma mais sutil, comparado aos cães.
Pesquisadores da Universidade de Oregon demonstraram que os felinos são capazes de desenvolver apego seguro, um vínculo afetivo semelhante ao que bebês humanos criam com seus cuidadores.
Quando ficam longe por um tempo, esses sinais comportamentais podem mostrar que o gato sente saudade do tutor:
- miados mais frequentes;
- mudanças no apetite;
- busca por objetos com o cheiro do tutor;
- carência, apatia ou agitação incomum.
Outros sinais comuns incluem esperar na porta, ronronar com mais intensidade, buscar mais colo ou até fazer “zoomies” (corridas energéticas) quando você chega.
Esses comportamentos variam conforme a personalidade, o histórico e o tempo de ausência, mas todos indicam uma coisa: o gato lembra de você.
Por que os gatos são considerados tão independentes?
A fama de independentes acompanha os felinos há séculos. E, de fato, são animais frequentemente vistos como distantes ou frios, mas essa fama não faz justiça à realidade.
Os gatos são independentes, sim, mas também são sociáveis e capazes de formar laços profundos com os humanos, quando respeitados em sua natureza.
Essa combinação única tem origem no seu processo de domesticação. Diferente dos cães, que foram moldados para a vida em grupo e cooperação com o ser humano, os ancestrais dos gatos — como o Felis lybica — eram solitários por natureza.
Até hoje, esse traço permanece: os gatos sabem se virar sozinhos, caçar, se higienizar e se adaptar a novos ambientes com facilidade.
Gatos são “facultativamente sociais”
Segundo cientistas, os gatos domésticos são o que pode ser chamado de facultativamente sociais.
Ou seja, são animais que apresentam flexibilidade para viver sozinhos ou em grupo, dependendo do ambiente e da disponibilidade de recursos como comida, abrigo e afeto.
Na prática, isso significa que um gato pode:
- Ser apegado e carinhoso com o tutor;
- Gostar da própria companhia e buscar menos interação;
- Se adaptar à presença de outros gatos ou preferir ficar sozinho.
Tudo vai depender da personalidade, da história de vida e da forma como o vínculo foi construído.
Tipos de vínculo com o tutor
Um estudo conduzido pelo professor Daniel Mills, da Universidade de Lincoln (Reino Unido), identificou cinco estilos de relacionamento entre gatos e seus tutores, que variam conforme o investimento emocional da pessoa e a abertura do gato:
- Relacionamento aberto – pouco vínculo e interação mínima.
- Associação remota – cada um na sua, com convivência pacífica.
- Relação casual – o gato é sociável, mas não foca no tutor.
- Codependente – gato e tutor buscam contato constante.
- Amizade – laço afetivo recíproco e estável.
Esse estudo reforça que os gatos não são indiferentes: eles apenas expressam o vínculo de maneiras diferentes, e a profundidade da relação depende muito da qualidade do convívio.
Cada gato é único
Além disso, o nível de sociabilidade dos gatos pode variar com a personalidade individual e até a raça. O RagaMuffin, por exemplo, é conhecido por ser carinhoso e presente. Já o Azul Russo e o Persa tendem a ser mais reservados e gostam da própria companhia.
“É importante respeitar o nível de interação social que seu gato prefere e trabalhar com ele para desenvolvê-lo, para benefício mútuo. Forçar a interação pode ter efeito negativo no vínculo”, reforça o estudo.
Então, como o gato sente saudade do dono tem um caráter particular e, por muitas vezes, comparativo com os cães, que tendem ser mais animados com a chegada do tutor.
Quando respeitamos o espaço e a individualidade do gato, inclusive seus momentos de silêncio e independência, cada demonstração de afeto se torna ainda mais significativa. Uma etapa importantíssima na rotina e no vínculo entre gatos e tutores.

Gostou do conteúdo? Viu, esse entendimento sobre como os felinos processam memórias, reforça que gatos não esquecem os donos depois de 3 dias, como diz o mito.
Quer entender mais sobre o comportamento dos felinos? Explore o Blog da Cobasi e descubra como fortalecer ainda mais o vínculo com seu pet.
Compartilhe o conteúdo com outros tutores e até a próxima!
O post Gatos esquecem os donos depois de 3 dias? Veja o que diz a ciência sobre a memória felina apareceu primeiro em Blog da Cobasi.