Saiba como identificar a obesidade canina e cuidar de cachorro gordo

Obesidade canina é um problema sério de saúde e qualidade de vida. Quando um cachorro está acima do peso, ele tem mais risco de desenvolver doenças articulares, cardíacas, respiratórias e metabólicas. 

Em média, cães obesos vivem até dois anos a menos do que cães com peso saudável, revela um estudo da Universidade de Liverpool (GERMAN, 2006). 

Por isso, cuidar da alimentação e do peso do seu pet não é apenas uma questão estética, mas uma necessidade médica.

Se você notar que seu cachorro está gordo, cansado, com dificuldade para brincar ou se movimentar, este guia é para você. 

Reunimos orientações baseadas em estudos técnicos e nas recomendações de especialistas em nutrição animal para ajudar você sobre:

Com orientação veterinária, dieta equilibrada e uma rotina ativa, o emagrecimento é possível e traz grandes benefícios à saúde do pet. Continue a leitura!

Como saber se meu cachorro está acima do peso?

Cachorro acima do peso apresenta costelas difíceis de palpar e ausência de cintura abdominal visível. Esses sinais físicos indicam sobrepeso ou obesidade canina e exigem avaliação com médico-veterinário.

A identificação do peso corporal pode ser feita visualmente com base no Escore de Condição Corporal (ECC), uma escala usada na medicina veterinária para classificar o estado nutricional dos cães.

Confira o infográfico abaixo e observe os diferentes níveis corporais do muito magro ao obeso:

Infográfico escore corpotal canino

Entenda como funciona o Escore de Condição Corporal (ECC)

O Escore de Condição Corporal é uma ferramenta usada por médicos-veterinários para avaliar o estado nutricional dos cães. 

A escala vai de 1 a 9 e considera a distribuição de gordura corporal em regiões como costelas, abdômen e lombar. Cada faixa representa uma condição física diferente.

Pontuação de 1 a 3 — Muito magro ou desnutrido

Costelas, vértebras e ossos do quadril são visíveis. A cintura é extremamente marcada e há perda evidente de massa muscular.

Pontuação de 4 a 6 — Peso ideal

Costelas são facilmente palpáveis, com leve cobertura de gordura. A cintura é visível de cima e o abdômen forma uma curva ascendente quando visto de lado.

Pontuação de 7 a 9 — Acima do peso ou obeso

Costelas não podem ser sentidas facilmente. Há acúmulo de gordura no abdômen, região lombar, base da cauda e pescoço. A cintura desaparece e o abdômen pode apresentar distensão.

Informações técnicas importantes sobre o ECC

Estudos mostram que o ECC é uma ferramenta confiável na avaliação da gordura corporal em cães. De acordo com Laflamme (2006), cada ponto acima do ECC 5 representa um aumento médio de 10% a 15% no peso corporal em relação ao ideal.

Além disso, os valores médios de gordura corporal variam conforme o escore:

  • ECC 6: 22% de gordura em machos e 26% em fêmeas
  • ECC 7: 26% em machos e 31% em fêmeas
  • ECC 8: 31% em machos e 37% em fêmeas
  • ECC 9: 35% em machos e 43% em fêmeas

Esses dados reforçam a importância do ECC como um método prático e clínico para monitorar o controle de peso em cães.

O que causa a obesidade canina? Entenda os principais fatores

O excesso de gordura corporal em cães é geralmente resultado de um desequilíbrio entre a quantidade de energia ingerida e o gasto calórico diário. Ou seja: o cachorro consome mais calorias do que consegue queimar.

Esse acúmulo é multifatorial, ou seja, pode ser causado por diversos fatores. Segundo o estudo de Case et al. (1998), a obesidade em cães é frequentemente resultado da combinação entre predisposição genética e fatores de manejo incorretos.

As causas mais comuns incluem:

Fatores internos (endógenos)

Algumas características próprias do animal podem favorecer o ganho de peso:

  • Idade avançada;
  • Predisposição genética;
  • Castração (que reduz o metabolismo);
  • Distúrbios hormonais, como hipotireoidismo e síndrome de Cushing;
  • Lesões no hipotálamo, que afetam a regulação do apetite.

Fatores externos (exógenos ou de manejo)

O estilo de vida do pet também influencia diretamente no risco de obesidade:

  • Dietas muito calóricas ou altamente palatáveis (saborosas demais);
  • Petiscos em excesso, principalmente os ricos em carboidratos;
  • Falta de exercício físico e estímulo diário;
  • Ambientes restritos (como apartamentos pequenos);
  • Uso de medicamentos que alteram o apetite;
  • Recompensas alimentares como forma de afeto.

Raças mais propensas a engordar

Algumas raças de cães têm maior tendência genética à obesidade, o que exige ainda mais atenção dos tutores na hora de controlar a alimentação e estimular a atividade física.

Raças mais suscetíveis
Cocker Spaniel
Labrador Retriever
Shetland Sheepdog
Dachshund
Basset Hound
Schnauzer Miniatura
Springer Spaniel
Pug
Chihuahua

Também tem aquelas raças que são menos suscetíveis, como o Boxer, Pastor Alemão, Dogue Alemão e Fox Terrier, por exemplo. 

Castração, idade e convivência com humanos

  • Cães castrados têm maior risco de ganhar peso, pois o metabolismo desacelera e o apetite pode aumentar.
  • A obesidade também é mais comum em fêmeas jovens, mas após os 12 anos a diferença entre os sexos praticamente desaparece.
  • O estilo de vida moderno contribui: pets que vivem em apartamentos, não caçam, não passeiam com frequência e recebem petiscos como forma de carinho tendem a engordar com facilidade.

Quais são os tipos de obesidade?

A obesidade em cães pode se manifestar de duas formas distintas:

Obesidade hiperplásica

Ocorre quando há um aumento no número de adipócitos, geralmente como resposta à ingestão calórica excessiva ainda na fase de crescimento ou puberdade. 

É menos comum e mais difícil de tratar, pois o corpo não consegue reduzir a quantidade dessas células abaixo de um limite mínimo (Vigoureux, 1992).

Quando essa hiperplasia se instala durante a fase de desenvolvimento, o risco de obesidade crônica na vida adulta é significativamente maior. Por isso, o controle nutricional desde filhote é essencial.

Obesidade hipertrófica

Caracterizada pelo aumento do tamanho das células de gordura (adipócitos). É o tipo mais frequente e mais fácil de controlar com dieta e atividade física.

Condições extremas de superalimentação até podem causar hiperplasia em adultos, mas, geralmente, a obesidade em cães adultos se deve à hipertrofia dos adipócitos (Bjorntorp, 1983).

Como ajudar um cachorro gordo a emagrecer de forma saudável?

O primeiro passo é entender que o emagrecimento canino exige orientação veterinária, planejamento alimentar e estímulos físicos consistentes. Inclusive, vale reforçar: não basta simplesmente reduzir a quantidade de ração.

Dietas restritivas, feitas sem acompanhamento técnico, podem causar deficiências nutricionais, perda de massa magra e piorar o quadro clínico.

Segundo Biourges (1997), a prevenção ainda é o melhor tratamento, mas quando o quadro já está instalado, o processo de emagrecimento requer disciplina, metas realistas e envolvimento ativo do tutor.

Por isso, a abordagem deve ser segura, gradual e sempre supervisionada por um profissional. A seguir, confira as estratégias mais indicadas por especialistas para ajudar um cachorro gordo a emagrecer com saúde:

1. Reeducação alimentar com ração light

As rações específicas para emagrecimento de cães têm menor densidade calórica, maior teor de fibras e ajudam a manter a saciedade com menos calorias. 

São alimentos formulados para evitar deficiências nutricionais, mesmo com redução energética de 20% a 50% da necessidade calórica diária, índice considerado seguro e eficaz segundo Grogan (1995) e Hand et al. (1989).

Mas, atenção tutores! Nada além da dieta prescrita deve ser oferecido, petiscos e restos de comida devem ser suspensos ou contabilizados no cálculo diário de calorias.

Vale um alerta: para a efetividade do tratamento e redução das chances de rejeição da nova ração, é preciso cuidado ao trocar o alimento. Confira como fazer:

2. Fracionamento das refeições e rotina fixa

O ideal é dividir a porção em 2 a 3 refeições por dia. De acordo com estudo, cães com mais de 20% de sobrepeso devem passar por fases de emagrecimento, reduzindo cerca de 1% do peso inicial por semana, com metas reavaliadas a cada 15 dias. 

Manter horários regulares reduz a ansiedade e facilita o monitoramento do apetite e do comportamento alimentar.

3. Estímulo à atividade física gradual

O exercício deve ser introduzido de forma gradual, respeitando o condicionamento do pet. Caminhadas leves e frequentes são um bom começo, com aumento progressivo de tempo e intensidade conforme a resposta do animal.

Em casos de obesidade severa, exercícios intensos podem causar lesões articulares ou problemas respiratórios. Por isso, a avaliação veterinária é essencial antes de iniciar uma rotina de atividades.

Outras formas de movimentar o pet incluem enriquecimento ambiental, brinquedos interativos e circuitos com obstáculos leves.

Curiosidade técnica

Para perder 1 kg de gordura, o cão precisa gerar um déficit de aproximadamente 7.700 kcal. O exercício isolado tem efeito limitado, mas quando associado à dieta, ajuda a preservar a massa magra e evita a queda do metabolismo basal.

Essa fórmula foi aplicada por Hand et al. (1989) no manual Small Animal Clinical Nutrition, e replicada por autores como Biourges (1997) e Murray (2003).

4. Monitoramento com pesagens regulares

Acompanhar o progresso é essencial para ajustar o plano conforme necessário. Pesagens quinzenais ou mensais permitem que o veterinário avalie o Escore de Condição Corporal (ECC), monitore possíveis oscilações e mantenha a motivação da família.

5. Avanços nutricionais no controle da obesidade

Estudos mostram que nutrientes como L-carnitina (para uso energético da gordura) e vitamina A (por regular a leptina sérica) podem contribuir para uma composição corporal mais saudável durante o emagrecimento. 

No entanto, vale ressaltar que qualquer tipo de suplementação deve ser indicada pelo veterinário.

Quais os riscos da obesidade para a saúde do cachorro?

cachorro acima do peso

A obesidade é uma condição clínica séria que compromete o bem-estar e reduz a expectativa de vida do cão. Entre os principais riscos associados ao excesso de gordura corporal em cães, estão:

Doenças articulares e dor crônica

Um dos primeiros sistemas afetados é o musculoesquelético. O acúmulo de gordura corporal sobrecarrega as articulações e aumenta o risco de: 

A obesidade pode iniciar um ciclo vicioso: o cão sente dor ao se movimentar, vai se exercitar menos, gastar menos energia e, consequentemente, ganhar mais peso, agravando o quadro articular e metabólico.

Um estudo com Dogues Alemães mostrou que 51,1% dos cães alimentados à vontade desenvolveram displasia, contra 28,6% nos com dieta controlada (CARNEIRO et al., 2006).

Complicações respiratórias e cardiovasculares

O acúmulo de gordura na região do tórax interfere na expansão pulmonar e na oxigenação, principalmente em raças braquicefálicas. 

Isso pode agravar quadros de colapso de traqueia, dificultar a respiração e elevar o risco de insuficiência cardíaca.

Alterações metabólicas e risco de diabetes

O tecido adiposo em excesso desregula o metabolismo. Entre as consequências estão a resistência à insulina, o desenvolvimento de diabetes mellitus, lipidose hepática, aumento de colesterol e triglicérides e pancreatite.

Maior risco em cirurgias e anestesias

Em cães obesos, o metabolismo dos medicamentos é alterado, o que eleva os riscos durante a anestesia. 

Além disso, as cirurgias tendem a ser mais longas e complexas, com recuperação mais lenta e maior risco de efeitos adversos no pós-operatório.

Distúrbios reprodutivos e urinários

Por causa do sobrepeso, as cadelas podem desenvolver incontinência urinária por deslocamento da bexiga causado pela gordura retroperitoneal. Além disso, o excesso de gordura na região pélvica pode dificultar o parto, elevando a incidência de distocia.

Neoplasias e imunidade reduzida

A obesidade canina também está relacionada à queda da resposta imunológica e à maior suscetibilidade a infecções.

Nesse caso, o pet têm risco aumentado de desenvolver certos tipos de tumores, além de apresentarem flatulência, constipação e distúrbios digestivos com frequência.

Por isso, manter o cão com peso adequado é uma decisão de saúde. Com uma rotina alimentar equilibrada, estímulo físico e acompanhamento veterinário, é possível prevenir esses riscos e garantir mais qualidade de vida e longevidade para o seu pet.

Dúvidas frequentes sobre cachorro gordo

cachorro gordinho

Qual a diferença entre sobrepeso e obesidade em cães?

Apesar de parecerem sinônimos, sobrepeso e obesidade representam estágios diferentes do acúmulo de gordura corporal. 

Essa distinção é importante, principalmente para definir o plano de tratamento mais adequado. Entenda as diferenças:

  • Sobrepeso ocorre quando o animal apresenta de 10% a 20% de excesso de peso em relação ao seu peso ideal.
  • Obesidade é caracterizada quando esse excesso ultrapassa os 20% do peso corporal ideal.

Cães castrados têm mais tendência a engordar?

Sim. Cães não castrados apresentaram frequência de obesidade (7,2%) e sobrepeso (14,2%) (WEETH et al., 2007).

Isso ocorre porque após a castração, há uma redução na taxa metabólica basal, o que significa que o corpo do cão passa a gastar menos energia em repouso. Se a alimentação e o nível de atividade física não forem ajustados, o risco de sobrepeso aumenta.

Posso dar menos ração para meu cachorro emagrecer?

Não sem orientação profissional. A simples redução da quantidade pode causar deficiências nutricionais. O ideal é usar uma ração específica para perda de peso, com acompanhamento veterinário, e seguir um plano de reeducação alimentar seguro.

O conteúdo te ajudou? Compartilhe esse artigo com outros tutores para conhecerem os riscos da obesidade canina, um passo essencial para oferecer mais saúde, bem-estar e qualidade de vida aos cães.

Para mais dicas sobre saúde, nutrição e comportamento, continue acompanhando o Blog da Cobasi. Até a próxima!


Referências técnicas

O post Saiba como identificar a obesidade canina e cuidar de cachorro gordo apareceu primeiro em Blog da Cobasi.